A HISTÓRIA DO JARAGUÁ
Segundo a Prefeitura de São Paulo, Jaraguá, na língua Tupi significa Gruta do Senhor, Guarda do Vale ou Senhor dos Vales.
O Jaraguá, poucos sabem, foi a primeira mina de ouro do Brasil. Conforme o Aventuras na História, em 1604, o garimpeiro sertanista Clemente Álvares informou à Câmara da Vila de São Paulo que desde 1592 vinha explorando ouro nas regiões do Jaraguá e Cantareira. No mesmo ano, o mercador português Afonso Sardinha, conhecido como “o Velho”, declarou, em seu testamento, 800 mil cruzados em ouro em pó (enterrados em botelhas de barro).
Pode-se dizer que o Jaraguá surge em 1891 com a criação da Estação Jaraguá, que a princípio se chamava Taipas, com a construção da estrada de ferro São Paulo Railway Company a qual após a concessão aos ingleses, a ferrovia passa a ser federal com o nome Santos Jundia, criada capitaneada por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá no antigo Império de Dom Pedro II.
Na imagem do antigo poste de luz da estação Jaraguá podemos observar a data de 1899.
FOTO FERNANDO CANHERO
FONTE INTERNET
FOTO FERNANDO CANHERO
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A primeira foto (preto e branco), pode-se observar a porteira de madeira, muito provavelmente entre o final do século XIX e início do século XX.
Na segunda foto ao meio, o trem da série 1700 chegando ao jaraguá no sentido Jundiaí. Ainda não havia o viaduto,
Essa obra foi uma reivindicação da população por muitos anos. No final da década de 90 e início dos anos 2000, cada vez que um trem passava, o trânsito fazia uma enorme fila, como pode ser observado na foto. Muitas vezes só para passar de um lado para o outro da linha, chegava a demorar mais de meia hora. No centro da foto, logo acima do telhado da estação, pode-se observar o antigo clube de malha que foi desativado para a construção do viaduto.
Na terceira foto, provavelmente entre 2008 e 2009, pode-se observar o viaduto em construção.
FOTO FERNANDO CANHERO
Vista de cima do viaduto. Ao fundo a igreja Matriz e o pico do Jaraguá.
As primeiras referências históricas da região datam do início do século XVI, quando Martim Afonso de Souza colheu informações sobre os recursos naturais e minerais da região. Até hoje pode-se ver dentro do Parque Estadual do Jaraguá a pia onde era lavado o ouro extraído do local.
O bairro surge do desmembramento da Fazenda Jaraguá, que entre os diversos proprietários ao longo dos anos teve: Gertrudes Galvão de Oliveira e Lacerda, sua filha Ana Eufrosina de Araújo Ribeiro casada com Dr. Rafael de Araújo Ribeiro, Lucrécia Leme de Araujo casada com Teófilo Prado de Azambuja que compra parte da fazenda Jaraguá. Em 1939 a fazenda, onde se encontra o morro do Jaraguá, é adquirida pelo governo do Estado. Cria-se em 1961 o Parque Estadual do Jaraguá, ponto turístico de nossa cidade.
Em 1934 foi dado início a construção da Igreja Matriz Paroquial Nossa Senhora da Conceição ao lado da Estação Jaraguá.
Por muito tempo o Jaraguá foi apenas uma zona rural. A situação começa a mudar apenas com a instalação da empresa Voith em 1966, mas mesmo assim até a década de 80 a maior parte das ruas não eram asfaltadas, não havia água encanada, esgoto e iluminação pública.
FOTO FERNANDO CANHERO
Em primeiro plano Rua Andresa e logo abaixo Rua Alto Jurupari em julho de 82
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No alto da foto vemos algumas rochas onde hoje é a Capela da Lagoa.
Abaixo a esquerda o terreno onde seria edificada a Escola Davi Sobrinho. Foto de janeiro de 82
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Escola Estadual Italo Betarello em julho de 82
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Rua lagoas de Camacho em Janeiro de 82. No alto a esquerda onde viria a ser a Capela da Lagoa.
Não era nada fácil para alguns moradores do Jaraguá terem água. Alguns poços de água tinham de ser muito fundos, ultrapassando 30 metros de profundidade.
O comércio se restringia na rua Camocim de São Felix, a rua da estação do Jaraguá onde estava a única farmácia, a única padaria e o único orelhão (telefone público).
A partir da década de 80 a vila Panamericano que teve seus terrenos loteados entre as décadas de 50 e de 60, vê surgir farmácia, supermercado, padarias, loja de Material de construção, mas ainda, sim, a maior parte dos terrenos não tinham construções. Podia-se atravessar a Estrada das Taipas, a principal artéria do Bairro, olhando para o alto sossegadamente, pois não havia quase movimento de veículos. Salvo no início da manhã e no final da tarde, quando os ônibus fretados pela Voith traziam e levavam seus funcionários. Formava-se uma fila indiana de ônibus.
Nessa época, os trens, da então RFFSA, eram praticamente sucateados e o bairro contava apenas com quatro linhas de ônibus, duas serviam basicamente moradores que moravam entre a estação e o pico do Jaraguá. Uma linha que ia até o centro da cidade e a outra ia até o mercado municipal da Lapa, ambas as linhas da empresa Santa Brigida. Curiosamente essas duas linhas ainda existem.
Na década de 80, os trens trafegavam de portas abertas e com passageiros que se arriscavam "surfando" em cima do vagão, não só na linha Santos Judiai (atual Rubi e Turquesa), como em toda malha ferroviária de São Paulo e Rio de Janeiro. Infelizmente, mais de uma pessoa foi atropelada na passagem de via do trem na estação Jaraguá, ocorrendo inclusive mortes.
As outras duas linhas de ônibus atendiam os moradores do outro lado da estação. Uma ia até a Praça Julio Mesquita no centro da cidade. Essa linha era operada pela extinta empresa Tusa. Na primeira metade da década de 90 aproximadamente, ela passou para a CMTC (Companhia Municipal de Transportes coletivos) da Prefeitura de São Paulo. Em 1996 a Prefeitura encerrou a CMTC, a partir de então a Empresa Santa Brigida assumiu a linha. Essa linha chegou a ter seu ponto final na Praça da República, Rua Conselheiro Crispiniano em frente ao antigo cine Marrocos e Rua Xavier de Toledo onde está até os dias atuais.
A outra linha ia até a Rua Faustolo com Scipião na Lapa. Ela tinha intervalo de quarenta e cinco minutos em pleno horário de pico. Também era feita pela empresa Santa Brígida. O seu ponto de destino também sofreu mudanças com o decorrer do tempo, ele foi mudado para o Largo Pompeia no final da Rua Turiassu (hoje esse trecho mudou de nome para Palestra Itália), depois para Avenida Antártica onde hoje é o Shopping West Plaza. Com a inauguração do Terminal Barra Funda, o seu ponto final passa a ser dentro do terminal. Em 2003, essa linha foi extinta com a reformulação do transporte coletivo.
Até pelo menos meados da década de 80, não era nada fácil depender dessas linhas de ônibus, os carros eram muito diferentes dos atuais. Eram feitos em chassis de caminhão, o que tornava a viagem muito desconfortável e lenta. Muitas vezes, na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, o ônibus parava e não consegui seguir viagem, os passageiros eram obrigados a descer para empurrar e fazer o veículo "pegar no tranco". Também não raro, o ônibus que subia pela Estrada Turística ao lado do Pico do Jaraguá, era obrigado a parar para esperar o motor esfriar.
Nesa mesma época, era comum ver caminhões enormes da empresa Irga que havia se estabelecido na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães onde hoje encontrasse o Assai, transportando enormes turbinas fabricadas pela empresa Voith para a Hidroelétrica de Itaipu. Era feita uma operação em conjunto com a então empresa Light de eletricidade para suspender os cabos elétricos, afim de permitir a passagem da turbina.
Entre o final da década de 80 e início da década de 90 o bairro começa a experimentar algo novo, o surgimento de inúmeros condomínios de prédio de moradia popular. Isso faz a população do bairro crescer em muito e começa a atrair mais comercio.
É somente no início dos anos 2000 que o Jaraguá passa a contar com grandes lojas como o Atacadão, Roldão, Sondas, Extra, Violeta, Sodimac Diccico e enfim em 2016 o Cantareira Norte Shopping.
Por volta da mesma época Os Bancos Bradesco, Itau e Caixa inauguraram suas agências. Antes disso, o Jaraguá contava com uma agência do antigo banco Bamerindus na Rua Turvania. Com a aquisição do Bamerindus pelo Bradesco, a agência muda para Bradesco no mesmo endereço.
Hoje o Jaraguá não lembra em nada o que era há décadas. Com trânsito intenso e forte movimento comercial, o bairro em sua avenida principal, a Estrada das Taipas, parece recusar-se a dormir herdando o movimento alucinado da metrópole a qual pertence, mesmo de madrugada, pode-se observar um constante movimento de carros, inclusive com food Trucks atendendo os transeuntes famintos em meio a madrugada.
Com certeza houve muitos mais fatos e acontecimentos no decorrer de todos esses anos. Há muito a ser acrescentado, mas através desse breve texto é possível ter uma ideia da história do Jaraguá.